Um tal de Machado de Assis
Conversei com o Machado de Assis esses dias. Insistiu
em me encontrar no dia 31 de Fevereiro, a agenda dele é meio estranha. Eu, mera
estudante, estava precisando parar para pensar nas grandes mudanças que estão
acontecendo com toda essa tecnologia dos dias de hoje e fui ao Rio de Janeiro
tomar um sorvete com ele. Sentamos em um banquinho na praça, ao lado de um
casal de velhinhos que estavam de namorico em um domingo à tarde (ele
compartilhou um sorriso com eles). Enquanto eu ia degustando meu sorvete, ele
foi me contando sobre seus romances, lembrando de suas poesias. Foi o sorvete
mais doce que já experimentei. Finalizou com essa: “Eu gosto de olhos que
sorriem, de gestos que se desculpam, de toques que sabem conversar e de
silêncios que se declaram.”. Nesse momento era eu quem estava sorrindo para o
casal de velhinhos.
No decorrer da conversa, toquei no assunto sobre o tal
relacionamento virtual que surgiu nesses tempos para cá. Aliás, tive que
balancear minhas palavras em nossa conversa para evitar que ele saísse correndo
ou tivesse um “tréco”. (Ele pediu para eu explicar o que era “tréco”).
Sutilmente, fui falando sobre os vários casos que
existem de pessoas que começam a conversar e compartilhar informações sem nunca
terem se visto. Falei até sobre uma pesquisa que li esses dias de duas
psicólogas. Um trecho está aqui:
“Na categoria solidão, nota-se que as participantes encontraram na internet um meio de fuga da realidade, tentando buscar um divertimento, um consolo, uma forma de aliviar suas carências afetivas".
“Na categoria solidão, nota-se que as participantes encontraram na internet um meio de fuga da realidade, tentando buscar um divertimento, um consolo, uma forma de aliviar suas carências afetivas".
“Fuga de Realidade”. Nessa hora, Machado arregalou os
olhos e não se conformou com tal fato. Logo ele! Um homem literalmente realista!
Desculpe, leitor passante, mas eu concordo inteiramente com ele. Toda essa
pesquisa me mostrou que, a cada dia, está mais fácil nos comunicar através
desses meios rápidos, mas fugir da realidade, acreditar em alguém que você
nunca viu? Não. Apesar de concordarmos um com o outro, tentei explicar a ele
que as pessoas possuem esse sentimento exatamente pelo motivo de estarmos dando
prioridade as coisas materiais e tecnológicas ao invés de presenciar momentos
únicos com as pessoas que amamos. Notei que ele foi ficando quieto diante as
coisas que ouvia. Fui mudando de assunto, pois já estávamos conversando há
horas e eu não queria deixar ele mais desconfortável. Levantamos do banco, ele
apertou as mãos do casal que ainda estava ali vendo o tempo passar e fomos
embora.
No silêncio do caminho que fazíamos a pé, notei que,
assim como o grande Machado que estava ao meu lado, sou a totalmente favor de
relacionamentos presentes. Quem é o “virtual” perto de sentir o batimento do
coração em um forte abraço, de olhar no fundo dos olhos, de conviver todos os
dias com quem amamos? Você conseguiria ter um relacionamento assim?
Encerramos ali. O coração dele batia lentamente.
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